Opinião

Opinião - José Richard


08/03/2024 - Edição 2188

O tempo passa e as águas da Baia de Guanabara continuam seu processo inacreditável de poluição. Alguns rios vindos da baixada fluminense e outros canais poluidores desaguam diariamente muita podridão, bactérias, lixo e líquidos químicos altamente tóxicos nas praias que a população de modo geral toma banho para se refrescar neste verão escaldante.  A consequência para os banhistas pode ser terrível, dizem médicos dermatologistas, e é impossível nada acontecer diante de tanta sujeira. 

Não precisa ser especialista para constatar que na Praia de São Bento o elemento poluidor faz as águas serem absolutamente impróprias para banho. Teve tempo que imaginei a inexistência de espécie de vida como peixes e qualquer outro ser vivente naquelas águas. Mas há uma época do ano em que a Praia de São Bento se torna um dos locais mais procurados e onde alguns pescadores retiram dali centenas de quilos de camarões diariamente, superando qualquer outro lugar no entorno da Ilha do Governador. 

Não quero pensar no prato de quem vai chegar esses camarões, mas desconfio que precisa ser forte e ter sorte quem comê-los. A irresponsabilidade é o sinônimo para o abandono das ações de despoluição da Baia de Guanabara. Apenas enxugamos gelo ao ver a Comlurb retirar diariamente caminhões de lixo flutuante depositados nas areias das nossas praias trazidas pelo vento e correntes marítimas. Essa poluição visível é menos tóxica, e é um grão de areia comparada com a poluição invisível despejada em forma de esgoto orgânico e milhões de litros de águas contaminadas que, entre outras fontes, saem de indústrias, dos hospitais e clínicas carregadas de organismos estranhos e bactérias. 

Não é certo que nada seja feito. Nem promessas existem mais. As oportunidades, como nas Olimpíadas de 2014 no Rio não foram aproveitadas. E nós, sobreviventes no fundo da Baía de Guanabara, resta imitarmos a Pedra da Onça, que olha para o mar sem perder a esperança.