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Fórum é "ponto" de travestis à noite

A prostituição de homossexuais nas redondezas do Fórum Regional da Ilha acontece há mais de duas décadas. O relato é feito pelos próprios homossexuais que usam a esquina do fórum como local de trabalho. Há 14 anos vivendo da prostituição, “Jéssica”, nome profissional de um insulano de 32 anos, revela o motivo que o levou a este caminho: o preconceito no mercado de trabalho.


29/05/2015 - Edição 1730

A rua ao lado do fórum é o "escritório" dos travestis
A rua ao lado do fórum é o "escritório" dos travestis
A prostituição de homossexuais nas redondezas do Fórum Regional da Ilha acontece há mais de duas décadas. O relato é feito pelos próprios homossexuais que usam a esquina do fórum como local de trabalho. Há 14 anos vivendo da prostituição, “Jéssica”, nome profissional de um insulano de 32 anos, revela o motivo que o levou a este caminho: o preconceito no mercado de trabalho. — Eu me descobri homossexual aos 16 anos e após completar a maioridade, me assumi. Por causa disso, tive que ganhar meu próprio sustento. O problema é que a maioria das empresas não contrata o trabalhador quando percebe que se trata de um homossexual. Então, por isso, devido à dificuldade de ser aceito no mercado de trabalho convencional, passei a me prostituir —disse Jéssica, que mora desde que nasceu na comunidade Nossa Senhora das Graças e diz ter uma renda em torno de R$ 8 mil por mês. Com programas que variam de R$ 50 à R$ 80, os travestis afirmam que o trabalho é de fato rentável. “Se a pessoa for equilibrada dá para ter um padrão de vida bom. O problema é quando a pessoa se envolve com consumo de drogas, principalmente a cocaína. Aí o que se ganha em uma noite, se gasta na mesma noite”, explica “Michele”, de 25 anos, que também mora na comunidade Nossa Senhora das Graças. De acordo com o grupo de travestis que faz ponto em frente ao fórum, a maioria dos clientes que busca seus serviços são homens casados. O grupo conta ainda que, de um modo geral, estes chefes de família, pedem algum tipo de carícia pouco comum aos costumes heterossexuais. A homofobia é citada como um problema bastante corriqueiro vivido pelos travestis. Segundo o grupo, diariamente, alguém passa de carro xingando e jogando pedras. Há também os conflitos com clientes violentos que querem sexo, mas não querem pagar.  A aposentada Lívia Braga, 57, mora próximo ao ponto de prostituição no Cocotá, e diz que a presença dos homossexuais, por incrível que pareça, traz mais segurança ao local. — Eles não mexem com ninguém. Procura por eles, quem quer. Outro dia eles pegaram um pivete que roubou o celular de uma menina no Aterro. De alguma forma, a presença deles ajuda até na questão da segurança — opinou Lívia. Contudo, a existência do ponto de prostituição não agrada a todos. Igor Pacheco, professor de educação física, acha a presença dos homossexuais ruim para a imagem do bairro. “Acho que os problemas vão além das doenças sexualmente transmissíveis, que um ponto de prostituição oferece. O exemplo é negativo para as crianças e adolescentes”, concluiu o professor.