27/01/2012 - Edição 1556
Navalha, pincel, tesoura, pente, água e creme de barbear. É apenas desse material que os irmãos Almir e Adilson precisam para trabalhar. Numa época em que os salões de beleza sofisticados ganham cada dia mais espaço, na modesta e acolhedora barbearia na Rua Mileto Maciel, 75, não falta clientes. Há 50 anos o Salão Boa Esperança mantém a tradição do pacote "barba-cabelo-bigode" e, preserva na Ilha, os moldes das barbearias dos anos 70.
O ofício, os irmãos aprenderam com o pai Antônio Borges. "Meu pai abriu a barbearia e nossa família morava aqui perto na Estrada da Bica. Quando criança, a gente vinha e ficava olhando atentamente ele realizar o trabalho. Com 18 anos eu fiz a primeira barba e já comecei a trabalhar aqui, meu irmão veio depois. Nessa época, era comum que os filhos seguissem a profissão do pai, hoje em dia é que as coisas estão diferentes", conta Adilson, que tem 70 anos. O irmão Almir tem 64 anos.
No espaço há duas cadeiras e um sofá antigo para os clientes aguardarem. A barba é feita com o tradicional copinho com a espuma. O talco e o álcool mentolado não poderiam faltar ao final do serviço, assim como um bom bate papo entre o barbeiro e o cliente. Para Adilson, um local somente para homens e que proporciona o resultado do barbear sem marcas e um corte de cabelo preciso, são os segredos dos barbeiros.
– Homens que preferem aparar a barba em casa acabam deixando falhas. Como nós só cortamos cabelos masculinos também temos mais experiência – explica. Cliente há sete anos, o militar José Valdenir concorda que a barba e o cabelo feitos por um barbeiro de ofício realmente não tem igual. "Confio no serviço, acho muito melhor vir aqui na barbearia, aproveito para conversar e o serviço é caprichado e em conta", diz.
Adilson revela que o movimento é maior ao final do mês e em véspera de feriados. Apesar de hoje em dia o costume de ir à barbearia não seja mais passado de pai para filho, Adilson conta que tem também clientes jovens. Os irmãos têm, cada um, seus clientes fiéis. "Tem gente que vem aqui para cortar cabelo só se for com o Almir, outros que só fazem a barba comigo, esperam até se tiver uma fila", conta.
Morador do Jardim Carioca, o cliente Carlo Farias é um dos mais antigos. "Meu primeiro corte de cabelo foi aqui. Ainda ia completar um ano de idade quando meu pai me trouxe", diz Carlo que tem 50 anos e nunca cortou o cabelo ou fez a barba em outro lugar. Na opinião de Carlo o costume de vir à barbearia é mantido porque os irmãos Adilson e Almir têm um padrão e sempre satisfazem a vontade dos clientes.
Adilson e Almir realizam o trabalho diário com dedicação e bom humor. Um corte de cabelo leva em média meia hora e a barba cerca de vinte minutos. A barbearia funciona de segunda a sábado das 8h às 19h. O corte de cabelo sai por R$ 10 e a barba à R$ 8.