Gente da Ilha

Maria do Churrasco faz amigos no Village

Aos 62 anos, Josefa Lima conquista clientes e amigos vendendo um gostoso churrasquinho.


26/04/2019 - Edição 1934

Josefa Lima, a Maria do Churrasco, vende churrasquinho há 34 anos no mesmo local para garantir o sustento
Josefa Lima, a Maria do Churrasco, vende churrasquinho há 34 anos no mesmo local para garantir o sustento
Quem passa pelo Village à noite já notou a presença de Josefa Lima, ou como foi batizada pelos clientes, a Maria do Churrasco. Aos 62 anos, ela conquista clientes e amigos ao longo de 34 anos vendendo um gostoso churrasquinho, servido no espeto ou no pratinho. Ela está no início da Rua Luís Sá, há 34 anos, sempre as quartas, sextas e sábados, a partir das 17h.    Natural de Campina Grande, na Paraíba, desde a infância Josefa percebeu que a vida não seria fácil. Aos oito anos, ela se viu obrigada a começar a trabalhar para ganhar o próprio dinheiro, já que os pais Raimundo e Severina não tinham condições para sustentar a casa. Foi vendendo rapadura e caixa de fósforos na feira que Maria deu os primeiros passos no comércio de rua.    Como as condições no nordeste do Brasil já não eram das melhores, dona Maria decidiu tentar uma melhor vida no Rio de Janeiro. Por influência de uma amiga de infância da mãe, veio morar no bairro do Guarabu. O primeiro emprego foi como empregada doméstica na Rua Abélia, no Jardim Guanabara, em uma casa de família. No entanto um acidente fatal com a dona da casa fez com que Maria ficasse desempregada e um filho pequeno para cuidar.    - Foi uma época de transição na minha vida. Eu era muito bem tratada nesta casa, mas a vida tem dessas coisas. Não desisti, fui valente, e arranjei um trabalho como garçonete em uma pensão nas Laranjeiras. Lá eu só começava às 10h, mas chegava às 6h para aprender a cozinhar e fazer dessa a minha profissão. Deu certo, e hoje posso garantir que sou uma cozinheira de mão cheia – diz Maria, sem modéstia.    Em 1986 decidiu investir no mundo dos espetinhos de churrasco e a escolha do lugar não poderia ser melhor. “Na época o Village era diferente e não havia os comércios que tem hoje”, e brinca dizendo que “fundou” o point do Village.   Para sobreviver por três décadas em meio a tantas transformações e concorrências, o segredo foi simples: preparar as carnes com carinho e exagerar no tempero da simpatia. Na barraca humilde da Maria está a inseparável churrasqueira que a acompanha há anos. Ela vende espetinho de frango, carne, salsichão e cafta, todos acompanhados com farofa e um molho à campanha delicioso. Os clientes viraram amigos e consideram o churrasquinho dela o “mais raiz” da região. A admiram pela força de vontade.   - Eu amo estar aqui. É minha vida. Posso estar mal-humorada, mas quando eu chego meu astral muda. Sou outra pessoa. Aqui eu danço, bebo minha cervejinha, conto e ouço histórias, faço uma fofoquinha ali e aqui. Tenho pra mim que só deixo isso aqui quando for morar lá no cemitério do Cacuia – brinca Josefa, que mora na Vila Joaniza.   Guerreira, dona Josefa que se tornou a Maria do Churrasco, demonstra ter uma força de vontade incrível para continuar lutando pelo sustento. É um exemplo. Com bom humor e o tempero especial do churrasquinho faz os clientes se multiplicarem. Aliás, vale provar o churrasquinho dela. O sorriso vem de brinde.   Por: André Oliveira