Gente da Ilha

Poeta foi analfabeto até os 52 anos

Perseverança e resignação são palavras perfeitas para definir Paulo Roberto Chaves, 64, nascido em Araruama e criado em uma família muito humilde, e cuja infância foi difícil, junto de seus oito irmãos.


23/09/2016 - Edição 1799

O escritor Paulo Chaves, na Feira Literária da Ilha, mostra dois dos seus quatro livros, publicados
O escritor Paulo Chaves, na Feira Literária da Ilha, mostra dois dos seus quatro livros, publicados
Perseverança e resignação são palavras perfeitas para definir Paulo Roberto Chaves, 64, nascido em Araruama e criado em uma família muito humilde, e cuja infância foi difícil, junto de seus oito irmãos. — Não tive brinquedos, não tive acesso à escola e eram raros os momentos de diversão. Vivíamos de forma precária, não tínhamos banheiro e éramos obrigados a fazer nossas necessidades no mato. Nosso fogão era à lenha e também não tínhamos geladeira — conta Chaves, destacando que apesar das dificuldades financeiras, ele se orgulha de ter recebido dos pais, Jorge e Maria, valores importantes como respeito ao próximo e honestidade. Diante das dificuldades que a sua família passava, aos 10 anos Paulo se viu obrigado a deixar as brincadeiras de criança de lado, e foi trabalhar em uma pousada em Araruama. “Lá fui acolhido pela dona do estabelecimento e além de ganhar meu dinheirinho, trabalhando como auxiliar de serviços gerais, também matava minha fome e tinha aonde dormir”. Aos 13 anos, embora ainda analfabeto, Paulo buscou outros caminhos. Trabalhou como vendedor de laranjas nas praias de Araruama e foi garçom. O tempo passou, o menino cresceu, casou-se com Rosangela, com quem vive há 41 anos, e foi morar em Sapucaia, interior do Rio. Do casamento nasceu a sua única filha: Rosana, que anos mais tarde casou-se com um insulano.  — Após o casamento, minha filha e meu genro convidaram a mim e a minha esposa para morar na Ilha, perto da casa deles. Viemos no ano de 2003 e tudo começou a mudar. Aqui, então aos 52 anos, eu conheci o Centro de Estudos Supletivos (CES) que ficava no Cocotá, bairro onde moro. Lá dei início aos estudos e tive a ajuda de excelentes professores. Quando aprendi a ler e escrever as portas do mundo se abriram para mim, e antes de iniciar o curso superior em Letras eu já tinha três livros publicados: “Artesia e Fotoesia”; “Paraty em Fotos e Poesias” e “Búzios em Fotoesia.”   Recentemente Paulo lançou mais um livro na Feira Literária da Ilha do Governador (Flig): “Rio em Photoesia”. Atualmente o escritor cursa pós-graduação em Biodiversidade e Sustentabilidade, na faculdade Estácio de Sá e dá aulas de alfabetização para adultos. — A cultura é libertadora e fascinante. Ela nos permite chegar a patamares inimagináveis. Em um período de 13 anos minha vida mudou muito. Hoje sou um intelectual, dou palestras em escolas e passo um pouco da minha história a outras pessoas. Isso é maravilhoso — disse o poeta destacando que a mudança para a Ilha foi importante para seu desenvolvimento cultural. Paulo é um exemplo de que, quando as oportunidades são bem aproveitadas, não existem limites para o sucesso pessoal e a carreira profissional. Ele é um exemplo de determinação sem fronteiras para o conhecimento. Com o curso de pós-graduação o poeta Paulo vai além e em busca de mais conhecimento, condição que, naturalmente, vai lhe proporcionar mais autoridade, respeito e admiração. Grande exemplo.