Gente da Ilha

Arerê tem ginga e o dom da palavra

Nascido no morro do Juramento, Eraldo Teixeira da Silva tem orgulho de dizer que veio ao mundo pelas mãos de uma parteira em uma casa de estuque há 59 anos passados. Os pais biológicos não tinham condições de criá-lo e logo após o aleitamento passou a ser criado pelos tios paternos


24/07/2015 - Edição 1738

Além das aulas de capoeira, Arerê se dedica à União e ao Boi da Ilha
Além das aulas de capoeira, Arerê se dedica à União e ao Boi da Ilha
Nascido no morro do Juramento, Eraldo Teixeira da Silva tem orgulho de dizer que veio ao mundo pelas mãos de uma parteira em uma casa de estuque há 59 anos passados. Os pais biológicos não tinham condições de criá-lo e logo após o aleitamento passou a ser criado pelos tios paternos.   Com muita dificuldade, o menino que ficava fascinado com os capoeiristas da comunidade do Juramento, estudou, cresceu e venceu. Tornou-se mestre de capoeira aos 18 anos e passou a ser conhecido como Mestre Arerê, que significa alegria, dança ou carnaval na cultura africana.   Aos 24 anos o mestre de capoeira foi aprovado em um concurso para prefeitura do Rio de Janeiro. Ao iniciar a carreira no serviço público Arerê conheceu a ex-mulher, mãe de sua filha Maíra Gomes da Silva, que morava na Ilha.   — Ela morava no Guarabu e eu vinha para namorar quando surpreendi com a energia singular da Ilha. Nos casamos e aí vim de vez. Morávamos na Rua Catalpa, no Jardim Carioca. Foi quando eu comecei a treinar jovens carentes no antigo Teatro de Lona da Ilha. Lá eu reunia uma média de 150 jovens todos os dias para jogar capoeira — conta o mestre com saudades da época.   Bem articulado na forma de se expressar, Arerê foi convidado na década de 90, pelo então presidente do Boi da Ilha, Eloy Eharaldt para ser porta voz da agremiação. “Conheci o Boi da Ilha e me apaixonei. É uma escola de samba onde as famílias se conheciam e parecia uma extensão da casa das pessoas. Existia um clima muito amistoso”, diz o capoeirista que há dois meses foi eleito presidente do Boi.   — Peguei a escola com problemas financeiros e políticos. Mas graças a Deus e aos amigos que fiz durante minha vida estamos conseguindo organizar de novo a agremiação. Firmei uma parceria com o Comodoro do Governador Iate Clube, José Carlos, que nos cedeu um espaço para utilizarmos como sede e vamos fazer nossos ensaios lá também — explica Arerê, que destaca as importantes colaborações de amigos e entidades do samba que estão ajudando a trazer de volta o velho clima de amizade e resgatando o orgulho dos boiadeiros da Ilha.   Mas não é só o Boi da Ilha que faz o coração do velho mestre bater no compasso do samba. Arerê tem um carinho todo especial pela União da Ilha, onde é comunicador nos eventos oficiais da escola. “O vice-presidente Djalma Falcão sugeriu meu nome no início de sua gestão e agradeço ao presidente Ney Filardi confiar que minha voz seja um elo entre a comunidade e a agremiação. Sinto-me muito honrado e feliz”, diz Mestre Arerê, o Gente da Ilha campeão na vida e no samba.