Gente da Ilha

Marcelo é o homem do amendoim torrado


10/09/2021 - Edição 2058

Marcelo ganha a vida vendendo deliciosos amendoins nos finais de semana
Marcelo ganha a vida vendendo deliciosos amendoins nos finais de semana

A trajetória de vida de Marcelo Luz da Silva, aos 44 anos, é cercada de obstáculos, todos superados com força de vontade, dia após dia. Ele se transformou em uma figura simpática nos finais de semana da Ilha, quando vende gostosos amendoins torrados, temperados com o tradicional grito “três por dez”. O bom relacionamento com os cliente o tornou um dos mais conhecidos personagens dos restaurantes da Ilha do Governador.  

Nascido em Niterói, Marcelo, desde pequeno, vendia flores e tentava a sorte como jogador de futebol do São Cristovão. Chegou a jogar nas categorias de base e lembra ter enfrentado o Flamengo, partida em que deu uma “caneta” entre as pernas do zagueiro rubro-negro Júnior Baiano, que anos mais tarde defenderia a seleção brasileira. O caminho da bola não deu muito certo por falta de dinheiro e ele precisou se dedicar ao trabalho. 

— Eu não conseguia conciliar o trabalho com o futebol. Chegou o momento que as coisas foram afunilando e eu tive que fazer a minha escolha, que na época foi ajudar a minha família, que precisava. É curioso, porque comecei vendendo flores, mas hoje todos me conhecem na Ilha por vender amendoim. Tudo mudou quando eu conheci minha esposa,  Erica Santana, que vendia amendoim na rua. Juntamos os trapos, como se fala, e a partir daí ela me convenceu que vender amendoim poderia ser mais lucrativo — conta Marcelo.  

Antes, porém, de começar a vender amendoim, há cerca de dez anos, ele sofreu um atropelamento quando descia de um ônibus da linha 474, em Copacabana e teve uma fratura exposta em um dos pés. O pé infeccionou e por pouco não teve que amputá-lo. Atualmente continua com fortes dores no pé e precisa do auxílio de uma muleta para andar.  

De acordo com Marcelo, o segredo do sucesso das vendas é o sabor caseiro do amendoim além do atendimento personalizado aos clientes. Ele é visto com frequência por quase toda a Ilha, principalmente, aos fins de semana. Diz que começa na sexta-feira pela Praia da Bica, passa pelo Cocotá, Cacuia, Ribeira e volta para Praia da Bica, onde termina de trabalhar em torno da meia-noite. No sábado, o trajeto começa às 8h da manhã na Feira da Ribeira, onde fica até o fim.  

— Eu agradeço aos meus clientes que considero grandes amigos. Criei uma freguesia muito sólida e estou aqui até hoje com muito orgulho em ser insulano. O povo da Ilha é muito educado em relação as outras regiões. Aqui, do rico ao pobre, todos são iguais, sem distinções no tratamento. O povo me acolheu de uma tal forma que sou eternamente grato. Nesta pandemia, pude perceber o quanto sou querido. Muito me ligaram preocupados e para saber como estava minha situação. Me ajudaram de todos os jeitos — comenta.  

Marcelo se tornou um insulano e do bem. Tem orgulho de ser insulano, apoia a família que desfila na União da Ilha e faz da Portuguesa o seu segundo time do coração. Enfim, mesmo com muitas forças contra é um insulano que faz seu trabalho com dedicação e bom humor, carregando uma história de superação. Percorre à pé, com o auxílio das muletas as distâncias entre os bairros para vender, de mesa em mesa nos restaurantes os amendoins que sustentam a família. 

Amendoim é com ele, no dinheiro, na maquininha ou até mesmo no PIX.