11/06/2021 - Edição 2045
O caro leitor estranhou esse título. É claro que, hoje, só há um cemitério na nossa Ilha do Governador e está localizado no bairro do Cacuia. Ele foi inaugurado em 1904, porém não foi o primeiro a existir na região. Você sabia disso? Quando falamos sobre a morte e o processo do óbito, ao longo dos séculos, percebemos como as sociedades lidam com esse tema bem sensível.
A ideia de enterros públicos em um mesmo local, chamados de “Necrópole” (cidade dos mortos) são os cemitérios atuais. Se você observar fotos ou imagens aéreas deles percebe-se claramente a semelhança com aspectos urbanos - traçado das quadras como “ruas”; entradas principais como “avenidas”; as sepulturas simples como “casas” e os grandes mausoléus e jazigos como pequenos “prédios”; além de haver uma área mais valorizada, perto do portão de entrada na via principal e áreas periféricas.
Com certeza, os primeiros povos que aqui moraram tiveram locais específicos para o enterro de seus entes queridos. Os povos Sambaquis, por exemplo, tinham o costume de enterrar os mortos onde residiam nas montanhas de conchas. Na Ilha do Governador, por conta da ação das antigas caieiras, muitos desses vestígios foram perdidos. Os nativos Temiminós também possuíam espaços específicos para os enterros.
A partir do período da colonização portuguesa, surgiram engenhos pela Ilha e o processo de ocupação se intensificou.Os membros da elite, muitas vezes, eram enterrados em terrenos das igrejas ou dentro delas. Na Ilha existiu o Mosteiro de São Bento (na região do Galeão) e os falecidos podiam ser enterrados em áreas do entorno, por exemplo.
Haviam dois cemitérios conhecidos localizados no bairro da Freguesia, próximos à Igreja Nossa Senhora da Ajuda. Um deles era destinado aos membros da Irmandade do Santíssimo Sacramento e o outro, ao lado, era para os demais habitantes. Ocupava um espaço muito grande e ali foram enterrados nativos, escravizados e colonos, imigrantes por muitos séculos. Se ainda existisse começaria próximo ao atual ponto de Taxi e seguiria à direita, e um pouco atrás.
Após a sua transferência, por conta da alteração política do início da República (1889), as novas leis da Constituição (1891) separando a Igreja do Estado, ajudou a acelerar essa mudança, além da deterioração dos dois antigos cemitérios. O local passou por mudanças e houve loteamentos para a construção posterior de casas e prédios.
Até por volta de 1916 sabemos que ainda estavam ocorrendo o translado de restos mortais da Freguesia para o Cacuia. A Praça Carmela Dutra - atual Calcutá - foi ganhando mais forma após a saída dos cemitérios no “Arraial da Freguezia”, como a região era nomeada na época.
Viva a nossa Ilha com muitas histórias por todos os lados!