Coluna da Aceig

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As consequências pós pandemia de Covid-19 na saúde mental


Por Igor Oliveira

26/01/2024 - Edição 2182

Em uma conversa com meu pai, Dr. Juarez Augusto de Oliveira, médico, imunologista e hematologista, que durante 35 anos foi professor de Bioquímica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), e que também foi diretor do Instituto de Hematologia do Estado do Rio de Janeiro atual Hemorio, no ano de 2020 ele manifestou uma preocupação enorme em relação as consequências da pandemia na saúde mental das pessoas nos próximos 20 anos.  

Eu também fiquei muito preocupado, inclusive relatei a ele que houve um aumentou na dispensação de benzodiazepínicos e antidepressivos tricíclicos na Clínica da Família que eu trabalhava. Ele me fez refletir e buscar mais informações sobre a supracitada pandemia e suas consequências na saúde mental da população. 

Observei que após a maior emergência de saúde pública dos últimos tempos, o Município do Rio de Janeiro ainda encontra dificuldades para desenvolver políticas públicas focadas nos danos à saúde mental, causados pela pandemia. 

Pesquisei e descobri, que em outubro de 2020, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal Rio Grande Sul (UFRGS) realizou um estudo que aponta que 80% da população brasileira se sentia mais ansiosa. Destes, 68% apresentavam sintomas depressivos, 65% expressavam raiva e 50% tiveram distúrbios no sono. O que desencadeou a alteração fisiológica na população, foi o medo de adoecer, de perder entes queridos, de ser demitido, incerteza sobre o futuro e falta de perspectiva. 

Em uma outra descoberta, encontrei a pesquisa “Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no Contexto da Covid-19”, realizada pela Fiocruz, que mostrou que parte dos profissionais que estavam na linha de frente do combate à doença tiveram pensamentos suicidas, perda de satisfação na carreira ou na vida, irritabilidade e choro frequente e impossibilidade de relaxar. Observa-se que “Os Heróis da Pandemia” também adoeceram durante o processo de cuidar dos pacientes que estavam internados, ou que eram diagnosticados, mas por falta de vagas nos leitos dos hospitais, eram enviados para suas casas e orientados a se isolarem por um período de 15 dias. 

Um estudo publicado na “The Lancet Regional Health – Américas”, sugeriu que um terço das pessoas que tiveram Covid-19 foram diagnosticadas com transtorno neurológico ou mental. Passado o momento mais crítico da emergência sanitária, ficam as crises sociais e econômicas, crianças e adolescentes que, devido à necessidade de isolamento social, apresentam dificuldades em socializar e atraso no desenvolvimento escolar, além disso existe o perfil dos mais afetados pelas consequências psicológicas da Covid-19.  

A Organização Mundial da Saúde OMS, afirma que jovens correm um risco desproporcional de comportamentos suicidas e automutilação e pessoas com condições de saúde física pré-existentes, como asma, câncer e doenças cardíacas, estariam mais propensas a desenvolver sintomas de transtornos mentais, e até mesmo virem a falecer. 

Meu pai faleceu em 2021 aos 74 anos, vítima do Covid-19, enquanto cuidava dos pacientes infectados com o supracitado vírus. E a conversa que tive com meu pai continua mais atual do que nunca. 

Igor Teixeira de Oliveira, é servidor público, oficial de farmácia com MBA em Administração Pública e, entre outras qualificações, é pós-graduado em Saúde Pública. Para mais detalhes sobre o conteúdo do texto: 99862-1957