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Bondes circularam na Ilha de 1922 a 1965

Professor insulano conta que transporte público circulou por mais de 40 anos e ligava a Ribeira a Freguesia


Por Juberto Santos

15/01/2021 - Edição 2024

Bonde passando pela orla em direção ao Cocotá onde ficava a estação principal
Bonde passando pela orla em direção ao Cocotá onde ficava a estação principal

Imagine percorrer as ruas dos bairros da nossa Ilha do Governador em um meio de transporte diferenciado, com as laterais abertas, numa velocidade razoável, sem trânsito, observando bem o fluxo de pessoas e as paisagens. Andar de bonde era assim. A Ilha era outra, a paisagem era bem diferente da atual, a temperatura não era tão quente como hoje até porque nossa região possuía muito mais árvores. Era outra época sim, mas que gera muitas saudades em muitos corações insulanos.

Os bondes circularam entre 1922 e 1965, com composições da Cia Ferro-Carril do Jardim Botânico sendo substituídas por outras da empresa Light. Essa mudança já se iniciara em 1920 com a colocação dos trilhos e melhoramento na região da Ribeira. A linha era Freguesia-Ribeira e depois prolongada até o Bananal.

Os condutores eram conhecidos pela maioria dos moradores pelo nome, mostrando como esse meio de transporte era tão querido pela maioria da população. A garagem dos bondes (Serviço de Transporte da Ilha do Governador) era num grande galpão no Cocotá que ainda existe hoje, porém bem descaracterizado.

Foi no governo de Carlos Lacerda (1960-1965) que teve fim o seu uso na Ilha, mesmo com o povo insulano sendo contra tal decisão. Acredite! Inúmeros deles foram queimados e tiveram a sucata de metal vendida pelo governo para abrir espaço nas garagens. Uma perda histórica incalculável. Contudo, alguns foram salvos. O nosso antigo “bonde 441”, foi adquirido, reformado e circula até hoje em uma cidade dos EUA dentro de roteiro turístico. Pesquise pela internet.

Para ajudar as gerações mais novas entenderem um pouco melhor, leia o depoimento do professor e pesquisador Jaime Morais sobre eles: “Os Bondes eram compostos quase sempre por duas unidades: o chamado carro-motor e o reboque, ambos com grande parte de suas estruturas construídas em madeira de peroba. Uma cordinha que percorria toda a lateral servia para dar o sinal de parada através de um pequeno gongo. Uma vez que o ultimo passageiro tivesse embarcado, o condutor tocava a campainha duas vezes, avisando ao Motorneiro (o que conduzia o bonde) que podia dar a partida. Em caso de chuva, cortinas de oleado eram baixadas, protegendo parcialmente os passageiros. Era o nosso bonde! Por meio dele, íamos para a escola, conhecíamos os amigos e, porque não, onde muitos namoros foram iniciados...”.

Era outra época sim, mas que gera muitas saudades em muitos corações insulanos.